Wagner Mueller, Head de Varejo da Zucchetti Brasil, empresa que atua na área de tecnologia para varejo, em especial micro e pequeno, aponta os principais desafios da digitalização e sua necessidade urgente mesmo entre os varejistas menores. A Zucchetti hoje tem uma base de 100 mil clientes no setor.
Estamos vivendo um cenário pós pandemia, e essa condição forçou muitas empresas a reforçarem sua presença digital. O que era, antes, diferencial competitivo, se tornou sobrevivência, uma vez que o digital se constituiu como alternativa singular para relacionamento com seus clientes. Em muitos casos, especialmente no pequeno varejo, esse posicionamento sequer existia. Essa corrida pela subsistência trouxe muitos desafios operacionais, mas especialmente culturais.
Se por um lado temos a tecnologia dando o apoio e suporte necessário para superar as adversidades apresentadas, temos do outro lado o empresário que, em muitos casos, ignorava esses recursos. Essa resistência parece ter ficado para trás, uma vez que a pandemia acelerou e muito a presença de ferramentas digitais nas empresas.
Num retorno à suposta normalidade do mercado, entendo que o grande desafio do empreendedor está condicionado a esse cenário: o uso da tecnologia (agora evidenciada como imprescindível) para uma gestão mais eficiente do seu negócio, agregando valor e gerando maior engajamento com seu cliente.
Com tudo isso, a digitalização, sem dúvidas, é o desafio do momento para o micro e pequeno varejo. O que tenho percebido é que, com o avanço dos recursos tecnológicos, esse desafio está muito mais fundamentado em uma resistência cultural do que na oferta de ferramentas.
A indústria de software possui hoje um extenso repertório de soluções customizadas. Para o pequeno varejo, em especial, é possível encontrar muita coisa boa (e eficiente), práticas e baratas, algumas, inclusive, gratuitas. Ferramentas que fazem e entregam coisas simples, mas que fazem a diferença na vida do empresário. Ajudam a tomada de decisões de forma mais rápida e assertiva.
Segundo o Sebrae, quase 70% das micro e pequenas empresas não conseguem completar seu 5° ano no Brasil. Ao longo de 30 anos em que acompanho esse mercado, observo que, geralmente, o motivo de insucesso não são fatores complexos, ao contrário, o básico é o grande vilão. Regras e práticas simples de gestão são indispensáveis para qualquer negócio, menos é mais, o chamado “feijão com arroz”.
O que ocorre é que, muitas vezes, o modelo mental do pequeno empreendedor precisa acompanhar os avanços tecnológicos, caso contrário terá sérias dificuldades para se manter competitivo no mercado e continuará sendo estatística negativa. O porte da empresa não define a viabilidade das suas ferramentas, muito menos o potencial do seu negócio, mas as atitudes dos gestores sim.
O pequeno varejo sempre terá um grande diferencial em relação aos grandes players: o relacionamento. A proximidade com o cliente é muito maior, é sua grande fortaleza e ela precisa ser fomentada. Aí entra a tecnologia, mas é importante que o pequeno empresário entenda isso: a tecnologia precisa ser usada como ferramenta, não como condicionante de mercado. Focar no que você é bom e usar a tecnologia como aliada, não o contrário. Sempre vai existir alguma solução que se encaixa.
Podemos citar alguns exemplos, como QR code, carteiras digitais, PIX, provadores digitais, chatbots, e-commerce, redes sociais como exemplos de ferramentas que podem ser usadas. Então, o desafio aqui é entender qual a melhor forma do empresário utilizar todo esse arsenal a seu favor. Começando pelo básico e evoluindo conforme a maturidade e ambições do seu negócio. Um prato de feijão e arroz também mata a fome. Importante que o empresário entenda que a tecnologia está aí para lhe ajudar – depende muito mais da fome e do tempero que ele quer dar.